Hipercorreção e Nódulos Pós-Preenchimento: O Que Fazer Após um Resultado Inadequado?

Um dos maiores temores de quem busca procedimentos estéticos injetáveis é não obter o resultado desejado. Infelizmente, a hipercorreção e a formação de nódulos são intercorrências que podem ocorrer após preenchimentos, gerando desconforto e insatisfação no paciente. Mas o que exatamente são essas condições e, mais importante, o que pode ser feito para corrigi-las?

Entendendo a Hipercorreção e a Formação de Nódulos

A hipercorreção acontece quando há um excesso de preenchedor em uma determinada área, resultando em um volume exagerado e, muitas vezes, em uma aparência artificial. Isso pode ocorrer por diversos fatores, desde uma avaliação inicial inadequada da necessidade do paciente, uma técnica de aplicação falha, ou até mesmo uma resposta individual inesperada do tecido.

Consequentemente, essa hipercorreção pode levar à formação de nódulos. Estas são pequenas protuberâncias palpáveis e, por vezes, visíveis, que se formam sob a pele. Eles podem ser de diferentes tipos:

  • Nódulos imediatos: Geralmente relacionados ao inchaço pós-procedimento, hematomas ou à má distribuição do produto.
  • Nódulos tardios: Podem surgir semanas ou meses após o preenchimento e são mais preocupantes, podendo indicar granulomas, biofilmes ou reações inflamatórias.

Quando esses nódulos são decorrentes de preenchimentos com ácido hialurônico (AH) – que, de fato, representa a vasta maioria dos preenchedores utilizados hoje devido à sua segurança e versatilidade –, há uma excelente notícia: eles podem ser corrigidos!

A Solução: Hialuronidase para Nódulos de Ácido Hialurônico

A hialuronidase é uma enzima que tem a capacidade de degradar o ácido hialurônico, ou seja, ela “dissolve” o preenchedor. Essa propriedade a torna a principal ferramenta para reverter intercorrências como hipercorreções e nódulos indesejados causados por AH.

Como a Hialuronidase Age?

Ao ser injetada na área onde há o excesso ou o nódulo de AH, a hialuronidase quebra as moléculas do ácido hialurônico em fragmentos menores, que são então reabsorvidos e eliminados pelo organismo. O efeito é geralmente rápido, podendo ser observado em poucas horas ou dias, dependendo da concentração do produto e da quantidade de AH a ser dissolvida.

Principais Marcas de Hialuronidase no Brasil

No mercado brasileiro, algumas das marcas de hialuronidase mais reconhecidas, de fácil acesso para compra e utilizadas por profissionais, são:

  • Victalab
  • PHD do Brasil
  • Biometil
  • Farmácia Centro Paulista
  • Toskani (x.Prof 150 Reductonidasa): Particularmente, na nossa clínica, utilizamos a Toskani por sua qualidade e confiabilidade.

É fundamental que o profissional utilize produtos registrados na ANVISA e de procedência confiável para garantir a segurança e eficácia do tratamento.

Diluição e Aplicação da Hialuronidase: Um Breve Resumo Técnico

A diluição e a forma de aplicação da hialuronidase são etapas críticas que exigem conhecimento técnico e experiência, por isso são ensinadas em detalhes em cursos especializados para profissionais da área. No entanto, para fins de entendimento geral, podemos resumir:

  • Reconstituição/Diluição: A hialuronidase geralmente é encontrada em pó liofilizado, precisando ser reconstituída com soro fisiológico 0,9% estéril. A concentração final dependerá da necessidade clínica e da preferência do profissional. Por exemplo, um frasco de 1.500 UI (Unidades Internacionais) de hialuronidase pode ser diluído em 1 mL ou 3 mL de soro fisiológico. Se diluído em 1 mL, teremos uma solução mais concentrada (1.500 UI/mL). Se diluído em 3 mL, teremos 500 UI/mL, e assim por diante. A escolha da diluição impacta a quantidade de UI que será injetada por cada mL de solução.
  • Cálculo da Dose (UI): A quantidade de Unidades Internacionais (UI) de hialuronidase a ser aplicada varia conforme a quantidade de AH a ser degradada, a densidade do nódulo e a resposta individual do paciente. Não há uma regra fixa, e a experiência clínica é fundamental. Casos de pequenas correções podem exigir 50-100 UI, enquanto nódulos maiores ou oclusões vasculares (uma complicação grave) podem demandar centenas ou até milhares de UI.
  • Técnica de Aplicação: A aplicação é feita por meio de pequenas injeções diretamente na área do nódulo ou da hipercorreção. O profissional deve ser preciso para injetar a enzima apenas onde o ácido hialurônico está presente, evitando dispersão para áreas não desejadas.

É importante ressaltar que, embora pareça simples, a aplicação da hialuronidase exige profundo conhecimento da anatomia facial, da reologia dos preenchedores (como eles se comportam no tecido) e da farmacologia da própria enzima.

O Papel Fundamental do Ultrassom Dermatológico na Avaliação

Antes de qualquer intervenção para corrigir nódulos ou hipercorreções, há um passo crucial que diferencia um manejo seguro e eficaz: o ultrassom dermatológico.

Sempre que possível, e se o profissional tiver acesso a um radiologista de confiança especializado em dermatologia, a realização de um ultrassom dermatológico é o ponto de partida ideal. Todos os nódulos e complicações, por mais simples que pareçam inicialmente, devem ser avaliados por esse exame.

O ultrassom dermatológico permite:

  • Identificar o tipo de material: Confirmar se o nódulo é realmente de ácido hialurônico ou de outro tipo de preenchedor, o que é vital para definir a estratégia de tratamento.
  • Localizar o preenchedor: Determinar a profundidade exata e a extensão do material injetado, guiando a aplicação precisa da hialuronidase.
  • Avaliar estruturas adjacentes: Verificar se há comprometimento de vasos sanguíneos, nervos ou outras estruturas importantes.
  • Diferenciar tipos de nódulos: Distinguir entre inchaço, hematoma, acúmulo de produto ou formações mais complexas como granulomas ou biofilmes, que exigem abordagens diferentes.

O ultrassom oferece um “mapa” preciso da área afetada, otimizando a segurança e a efetividade da hialuronidase e minimizando riscos.

A Importância da Prevenção e da Capacitação Profissional

A melhor forma de evitar a hipercorreção e a formação de nódulos é através da prevenção. Isso inclui uma avaliação detalhada do paciente, escolha do produto adequado, técnica de aplicação impecável e conhecimento aprofundado das particularidades de cada face.

Para os profissionais da área estética, dominar as técnicas de preenchimento e, crucialmente, as estratégias de manejo de intercorrências como a hipercorreção e os nódulos, é não apenas um diferencial, mas uma responsabilidade ética. Cursos avançados que abordam desde a anatomia até as complicações, incluindo o uso da hialuronidase e a interpretação de exames de imagem como o ultrassom dermatológico, são indispensáveis para garantir a segurança e a satisfação dos pacientes.