Gestação e as dermatoses

Gestação e as dermatoses

Muitas mulheres que engravidam se preocupam com questões estéticas durante a gestação, mas não são só esses fatores que podem se alterar durante esse período, algumas características específicas da pele mudam durante esse período e também podem surgir dermatoses específicas deste período.

Na grávida a melanogênese fica aumentada, por isso vemos aparecimento e piora de melasma, escurecimento de mamilos e regiões anogenitais, escurecimento da linha alba (linha central do abdômen – também chamada de linha nigra).

Nesta fase as unhas e pêlos ficam com seu crescimento aumentados, os cabelos tendem a permanecer mais tempo na fase anágena (fase de crescimento).

Algumas mães percebem o aumento da secreção de glândulas écrinas, dando hiperidrose, que é o aumento da transpiração sobretudo nas palmas das mãos e pés.

Podem aparecer acrocórdons (pequenas “verruguinhas”), mais comuns no pescoço e tronco, fator ligado à resistência à insulina que também é uma tendência na gestação.

Também é descrita a predisposição a algumas alterações vasculares como telangectasias (pequenos vasinhos), granuloma piogênico, eritema palmar.

O padrão de imunidade mude, o ambiente do sistema imune se adapta para tornar o organismo mais adaptado ao feto (que é um ser “estranho” geneticamente), para isso ocorre diminuição da resposta TH1 e aumento das respostas TH2, justificando melhora e piora de alguns quadros patológicos.

Algumas doenças por exemplo tendem a melhorar durante a gestação, exemplo:

Psoríase e dermatite atópica

Mas e se uma gestante tiver um câncer de pele ? Um melanoma por exemplo? O quadro será mais grave ou mais brando?

Isso é independente da gestanção, o melanoma tem seu prognóstico definido por sua espessura/ profundidade ao diagnóstico e isso não tem nada haver com o momento gravídico.

Agora vou falar bem rapidamente de algumas dermatoses da gestação.

  • PENFIGÓIDE GESTACIONAL (antigamente chamado de herpes gestacional), doença penfigóide bolhoso – like (lesões bolhosas tensas, urticariformes pruriginosas), é uma doença que tende a recidivas mas com característica de pular gestações (uma gestação tem a doença a outra gestação não tem), apresenta anticorpos anti BP230 (principalmente) e também pode ter anti BP180, relação com HLA DR4 E DR3, caracteriza-se por lesões que ocorrem geralmente no terceiro trimestre, acometem a região peri-umbilical e pode trazer riscos fetais, tais como parto prematuro e caso os anticorpos atravessem a placenta o recém-nascido pode apresentar lesões de pele que tendem a regressão espontânea. Essas pacientes têm mais chances de desenvolver doenças autoimunes, dentre elas tireoidopatias (Graves). Esse quadro geralmente requer tratamento sistêmico para controle do quadro.
  • ERUPÇÃO POLIMORFA DA GESTAÇÃO (PUPPP) – placas e pápulas intensamente pruriginosas, que classicamente atinge primípara (primeira gestação), em locais com estrias (acredita-se que a distensão com ruptura das fibras da pele para forma as estrias, desencadeia os autoanticorpos locais), pouca a região ao redor do umbigo, aparece no terceiro trimestre (pode surgir até após o nascimento do feto- mas é mais raro). Não acarreta risco ao feto e as lesões tendem a regredir e não recidivar.
  • ERUPÇÃO ATÓPICA DA GESTAÇÃO – acomete gestantes que geralmente não tem quadro de dermatite atópica na vida adulta (ou tiveram na infância ou nunca tiveram). As lesões ocorrem ANTES DO terceiro trimestre. Pode aparecer como eczema em áreas típicas ou não de dermatite atópica, xerose, pápulas e prurigos nodulares. Não interfere com o risco fetal.
  • PRURIDUM GRAVIDARUM – colestase gestacional, prurido intenso sem lesão elementar específica, notadamente no abdômen e regiões palmo-plantar, podem aparecer lesões na pele mas secundárias à coçadura. Os parâmetros hepáticos laboratoriais podem estar alterados (TGO, TGP, FOSFATASE ALCALINA, GAMA GT) e indicam a colestase. Esse quadro na gestante altera o prognóstico fetal.
  • IMPETIGO HEPERTIFORME – doença desencadeada geralmente no terceiro trimestre, quadro de psoríase pustulosa, caracterizada por pústulas não contaminadas (apesar do nome impetigo), agrupadas na periferia de placas eritematosas psoriáticas. É geralmente acompanhada de sintomas gerais sistêmicos e o quadro é disseminado pelo corpo.